Devido suas características físico-químicas, toxicológicas e interações com o meio físico, a remediação de áreas impactadas por solventes clorados ainda representa um grande desafio na gestão e reabilitação de áreas contaminadas. Solventes clorados foram amplamente utilizados, e ainda são em menor escala, em processos industriais de tratamento de superfícies (ex.: processos de desengraxe) e de limpeza a seco (ex.: processo de lavagem de tecidos a seco).
A manipulação inadequada desse grupo de compostos podem impactar de modo importante os solos e águas subterrâneas em seus níveis freático e profundo e comprometer a ocupação humana destes locais, ocasionado por significativos riscos inaceitáveis à saúde humana. A Tabela abaixo apresenta de forma resumida a relação entre as principais características fisico-químicas e o comportamento destes compostos no meio físico.
Compostos Solventes Clorados – Características Físico-Químicas e Comportamento no Meio Físico
Diante deste cenário, a intervenção e reabiliatação destes locais podem demandar investimentos significativos de tempo e dinheiro, com o diagnóstico, planejamento e execução do plano de intervenção. Para se alcançar o sucesso na eliminação de riscos inaceitáveis, a definição correta da abordagem e tecnologia de remediação mais adequada é fundamental. Para tanto, antes da aplicação da mais adequada técnica de remediação, é fundamental minimizar as incertezas envolvidas no processo, realizando diagnóstico ambiental detalhado e um estudo abrangente de alternativas.
O diagnóstico ambiental é a base para a construção de um modelo conceitual ambiental (MCA) o mais preciso e exato possível, no qual se deve buscar a mais completa caracterização da extensão e natureza da contaminação, bem como a identificação dos riscos associados. De forma resumida, este diagnóstico deve incluir:
Identificação de Fontes Antigas e Atuais, Ativas e Não Ativas
- Fontes Antigas e Atuais: Investigar o histórico do uso do terreno para identificar atividades passadas e presentes que possam ter contribuído para a contaminação. Isso inclui a revisão de registros históricos, mapas antigos e entrevistas com pessoas que conhecem o local.
- Fontes Ativas e Não Ativas: Determinar se as fontes de contaminação ainda estão ativas ou se são resquícios de atividades passadas. Fontes ativas podem continuar a liberar contaminantes, enquanto fontes não ativas podem ter deixado uma contaminação residual significativa.
Investigação do Solo e Água Subterrânea
- Coleta de Amostras: Realizar a coleta sistemática de amostras de solo e água subterrânea em diferentes profundidades e locais para mapear a distribuição espacial dos contaminantes.
- Análises Laboratoriais: Submeter as amostras a análises laboratoriais para determinar a concentração e os tipos de contaminantes presentes. Técnicas analíticas podem incluir cromatografia gasosa, espectrometria de massa e outras técnicas avançadas de detecção.
- Perfil Geológico e Hidrogeológico: Estudar as características geológicas e hidrogeológicas do local para entender o comportamento dos contaminantes no solo e nas águas subterrâneas. Isso inclui a avaliação da permeabilidade do solo, a presença de camadas impermeáveis e a direção do fluxo de água subterrânea.
Avaliação de Riscos
- Impactos à Saúde Humana: Identificar e quantificar os riscos potenciais à saúde humana associados à exposição aos contaminantes. Isso pode incluir a avaliação de vias de exposição, como inalação, ingestão e contato dérmico.
- Impactos Ambientais: Avaliar os possíveis impactos ambientais, incluindo a contaminação de corpos d’água, ecossistemas e a biodiversidade local. Isso envolve a modelagem do transporte de contaminantes e a identificação de receptores ambientais sensíveis.
- Critérios de Remediação: Estabelecer critérios de remediação com base nos níveis aceitáveis de contaminação, conforme regulamentações ambientais e padrões de saúde pública.
Após a etapa de diagnóstico aparecerão questões para a tomada de decisão de qual caminho seguir, como: a remediação é a intervenção mais adequada? Se sim, qual a melhor técnica de remediação a ser aplicada? Ainda tem existência de fase livre? Usar técnica de forma isolada ou em conjunto? Se a contaminação já ultrapassou os limites de minha propriedade, qual abordagem e técnica usar? Qual a melhor técnica para meu empreendimento em termos de prazos, fluxo de caixa, questões legais e relação com partes interessadas e afetadas?
Estas questões precedem, convivem e devem ser respondidas com a etapa de estudo de alternativas e o plano de intervenção. Abaixo é apresentado de forma resumida as etapas de estudo de alternativas.
Estudo de Alternativas
- Avaliação de Técnicas de Remediação: Analisar diferentes técnicas de remediação disponíveis, considerando sua eficácia, custo, tempo de implementação e impactos ambientais. Isso inclui uma revisão das melhores práticas e tecnologias emergentes no campo da remediação ambiental.
- Simulações e Modelagens: Utilizar ferramentas de modelagem para simular o desempenho das técnicas de remediação propostas e prever os resultados a longo prazo.
- Análise de Viabilidade Técnica e Econômica: Avaliar a viabilidade técnica e econômica das alternativas de remediação. Isso inclui a análise de custos diretos e indiretos, cronograma de implementação e os recursos necessários.
- Planejamento de Contingências: Desenvolver planos de contingência para lidar com possíveis falhas ou imprevistos durante a implementação das técnicas de remediação escolhidas.
A seguir apresentamos algumas considerações com relação a remediação de sites contaminados por compostos solventes clorados. Abordaremos de forma inicial as técnicas mais aplicadas, já estabelecidas, para a solução de sites contaminados por solventes clorados, apresentando uma análise comparativa em termos de eficácia, reincidencia (efeito rebote), custo e tempo de implementação dentre outros drivers importantes para o sucesso da intervenção a ser definida.
Técnicas de Remediação Estabelecidas para Solução de Sites Contaminados por Solventes Clorados
A escolha da melhor alternativa para a remediação de áreas contaminadas depende de diversos fatores, como o tipo e a concentração dos contaminantes, a abrangências, massa total, se há fase livre ou não, as características do solo e da água subterrânea, o prazo disponível para a remediação, o custo, o impacto no fluxo de caixa e o impacto ambiental. Cada tecnologia tem suas vantagens e limitações, e frequentemente, o uso combinado de diferentes técnicas (tecnologias mistas) pode proporcionar resultados mais eficazes e eficientes. Abaixo, apresentamos uma tabela comparativa para auxílio preliminar na tomada de decisão de qual alternativa escolher e um resumo das principais tecnologias estabelecidas para a remediação de áreas contaminadas, destacando suas características e aplicações.
Tabela Comparativa de Tecnologias de Remediação Intrusão Vapores, Solo e Água para Solventes Clorados
Oxidação Química In Situ (ISCO): Esta técnica envolve a injeção de oxidantes químicos no solo e na água subterrânea para destruir os contaminantes.
Redução Química In Situ (ISCR): Utiliza agentes redutores, como Ferro Zero Valent (ZVI), para transformar contaminantes em formas menos tóxicas.
Bioremediação In Situ: Utiliza microrganismos para degradar contaminantes orgânicos no solo e na água subterrânea.
Desorção Térmica Ex-Situ: Aquecimento do solo contaminado em um forno para volatilizar e capturar os contaminantes.
Remediação Térmica In-Situ: Aquecimento do solo e da água subterrânea para volatilizar os contaminantes, que são então extraídos.
Biorremediação Ex-Situ: Tratamento biológico do solo contaminado em áreas controladas.
Lavagem de Solo: Uso de soluções para mobilizar e separar contaminantes do solo.
Extração/Bombeamento e Tratamento (Extraction, Pump and Treat): Extração/Bombeamento de vapor e água subterrânea contaminada para tratamento ex-situ.
Injeção de Gases ou Fuidos: injeção de gases (normalmente ar comprimido) para aumentar volatização, e carragar compostos gasosos ou injeção de fluidos (normalmente água) para carregar contaminação.
Barreiras Reativas Permeáveis (PRBs): Barreiras subterrâneas contendo materiais reativos que degradam os contaminantes à medida que a água subterrânea flui através delas.
No Brasil, outro importante aspecto a se considerar é se o remediador a ser usado, principalmente nas remediações in-situ, são homologados pelo IBAMA. Para a injeção de agentes remediadores, gases e líquidos no solo e na água subterrânea, é necessário que esses agentes tenham aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). A aprovação garante que os agentes utilizados não causarão impactos adversos adicionais ao meio ambiente e são seguros para uso em operações de remediação. O processo de aprovação envolve principalmente a Análise de Segurança e Eficácia e a Conformidade com Regulamentações Ambientais. Caso não sejam, riscos de sanções pelos órgãos licenciadores competentes podem acontecer.
A escolha da tecnologia mais adequada é crucial para o sucesso da remediação. Fatores como o tipo de contaminante, a concentração, as condições do solo e da água, e as restrições financeiras e de tempo devem ser considerados. Em muitos casos, a combinação de diferentes tecnologias (tecnologias mistas) pode proporcionar uma abordagem mais abrangente e eficaz, aproveitando as vantagens de cada método e mitigando suas limitações.
Utilizar tecnologias mistas permite uma abordagem mais flexível e adaptável, aumentando as chances de sucesso na remediação e reduzindo os riscos de efeitos rebote e impactos ambientais adversos. Mas lembrando, uma avaliação detalhada e abrangente do caso e um planejamento cuidadoso são essenciais para selecionar a(s) tecnologia(s) mais adequada(s) para cada caso específico.
Aqui estão as principais fontes consultadas e para consultas adicionais sobre o tema:
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA): www.epa.gov
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB): www.cetesb.sp.gov.br
Interstate Technology & Regulatory Council (ITRC): www.itrcweb.org
United Nations Environment Programme (UNEP): www.unep.org
National Research Council: www.nationalacademies.org/nrc